Enquanto
a velha mastiga, ele deseja. Revira a papa viscosa. Ouve as mesmas advertências
da gorda entupida.
“Ela fala o certo, mas sempre do jeito errado”
o interlocutor remói enquanto saliva, no pensamento, a refeição dos seus sonhos
em prato alheio.
No
meio de outra mastigada (cavalar) da idosa, ele avança. Arranca o garfo das
mãos surpresas e enfia-o na jugular que, de pronto, lhe espirra sem critérios.
O moço alto e pálido sorri, como um amaldiçoado, mas satisfeito porque comerá
carne, um ano depois. Experimenta a peça cozida, todavia a reprova. Acha melhor
a do entorno aos buracos, ainda cuspindo vermelho. Pega a faca rente e degola a
senhora, que lhe fornece a consumação dos instintos.
- O que foi, rapaz? Ficou surdo?
- Hã? Nada, vó... nada.
- Você sabe que não pode comer carne,
né? O médico te proibiu e ...
- Tá, vó. Tá. Já sei, sei...
A campainha toca.
Entre
rápido e sereno, o moço se ergue. Jura defender a avó de quaisquer abusos, por
isso explica a ela a necessidade de atender sozinho à solicitação externa. A
velha se queixa de dores. Ele verifica a região indicada. Nota uma falha nas
costuras (grossas) do pescoço. A campainha se repete. A senhora é,
cuidadosamente, transportada e acomodada no sótão. O moço pálido se constrange,
mas tem de resguardá-la. Sabe que ela abomina policiais.
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