segunda-feira, 19 de maio de 2014

O JOGO DOS PORQUÊS




O medo desarma.
A paz protege.
O perdão desconcerta.
A vida ensina.
O poder atrai.
A beleza cega.
O dinheiro abre portas.
A pobreza desacredita.
A fé renova.
A dúvida congela.
A arte expressa.
O sexo borbulha.
O corpo pede.
A alma agradece.
Seu tudo pode ser meu nada.
Meu nado pode ser seu fundo.
A ordem é o sangue do caos.
O caos é a causa da ordem.
Dor é fugir dela.
Amor é procurá-la.
Uma ida ao inferno é fresca pra quem engana.
Um pouco de céu é tédio pra quem ama seu reinado.
Ser hipócrita é mentir pra si mesmo até acreditar...
O idiota que escreveu este poema
Estava com dor de cabeça e precisava desabafar.



A CURA




   O jardim dos amantes habita no chão da cumplicidade, no céu das tempestades, no breu das decisões. Entre cada deserto ou oásis que a vida proporciona, a verdadeira importância dos românticos persiste nos gestos mais simples. Abraço que fortalece; afago que renova; olhar que confessa; bobagem solta no momento certo. Seriedade que mesmo desagradando, constrói.
   Querer amar sem sofrer é edificar um edifício arenoso, pois tal sentimento une de uma forma inexplicável, almas diferentes em um elemento comum que nunca será o mesmo, mas movido pelo adubo da sua diferença. O amor forja corações dependentes da presença; desejos que só completos quando divididos. Semeia uma árvore complexa que floresce ou se compadece numa mesma orquestra. A dor da raiz é a do caule; das folhagens; do solo. Os frutos nada mais são do que o resumo das partes.
    A joia mais viva e cristalina, sem preço, atualmente é artigo em liquidação.

Reino das Vaidades





   A ferrugem da vida consiste em ter de usá-la para sobreviver, tentando esquecer que tudo passa e o melhor a fazer deveria ser o que gosto. Mas se é necessário todo sangue doado para arcar com as despesas necessárias ao corpo, que proveito há nessa balança injusta? Passamos a maior parte da existência fazendo o que detestamos e nos desculpamos com algumas gotas de prazer. Quem vive oitenta, caso conte direito, vai descobrir que, se viveu vinte de verdade, foi muito. Pensamos que domamos o tempo, mas somos seus escravos. Sempre usados de forma implacável para os seus propósitos.
   Enquanto planejamos ou gastamos nossa força, acreditando no que só é material em nossa mente, a poeira das horas escorre firme, surda, obediente até o ponto final. Se o sonho chegará, certeza não se tem. Se haverá amanhã, apenas na teoria profetizamos. Tudo é tão incerto que preferimos deixar a sorte nos guiar, sabe-se lá para onde. A nossa passagem, porém, é sempre matemática.
    Infelizmente é preciso que o mais precioso escorra durante a dura lida no mundo. Já que deve ser assim, ao menos que seja para usufruto da alma. Que seja para formar preces coletivas de agradecimento e correntes frutíferas de boa vontade.
   Somos oprimidos pela liderança que usa seu livre arbítrio para subjugar os de mesma substância. Desejamos sem saber se alcançaremos. Deixamos os anos escaparem entre os dedos, sempre frenéticos pelos títulos e posses, que nunca provarão nada de realmente importante. Resmungamos muito, mas ignoramos o fato de que a cada minuto milhões de pessoas, em alguma parte do globo, se foram.
   De tanto pensar consegui capturar, do meu pó, algo de útil.


ENTRE MUNDOS Dar um real a um mendigo Não faz dele menos real Qual é o prêmio real do ato? Ele se tornar real em mim Ou ser eu o pr...