segunda-feira, 19 de maio de 2014

Reino das Vaidades





   A ferrugem da vida consiste em ter de usá-la para sobreviver, tentando esquecer que tudo passa e o melhor a fazer deveria ser o que gosto. Mas se é necessário todo sangue doado para arcar com as despesas necessárias ao corpo, que proveito há nessa balança injusta? Passamos a maior parte da existência fazendo o que detestamos e nos desculpamos com algumas gotas de prazer. Quem vive oitenta, caso conte direito, vai descobrir que, se viveu vinte de verdade, foi muito. Pensamos que domamos o tempo, mas somos seus escravos. Sempre usados de forma implacável para os seus propósitos.
   Enquanto planejamos ou gastamos nossa força, acreditando no que só é material em nossa mente, a poeira das horas escorre firme, surda, obediente até o ponto final. Se o sonho chegará, certeza não se tem. Se haverá amanhã, apenas na teoria profetizamos. Tudo é tão incerto que preferimos deixar a sorte nos guiar, sabe-se lá para onde. A nossa passagem, porém, é sempre matemática.
    Infelizmente é preciso que o mais precioso escorra durante a dura lida no mundo. Já que deve ser assim, ao menos que seja para usufruto da alma. Que seja para formar preces coletivas de agradecimento e correntes frutíferas de boa vontade.
   Somos oprimidos pela liderança que usa seu livre arbítrio para subjugar os de mesma substância. Desejamos sem saber se alcançaremos. Deixamos os anos escaparem entre os dedos, sempre frenéticos pelos títulos e posses, que nunca provarão nada de realmente importante. Resmungamos muito, mas ignoramos o fato de que a cada minuto milhões de pessoas, em alguma parte do globo, se foram.
   De tanto pensar consegui capturar, do meu pó, algo de útil.


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