A ferrugem da vida consiste em ter de usá-la
para sobreviver, tentando esquecer que tudo passa e o melhor a fazer deveria
ser o que gosto. Mas se é necessário todo sangue doado para arcar com as
despesas necessárias ao corpo, que proveito há nessa balança injusta? Passamos
a maior parte da existência fazendo o que detestamos e nos desculpamos com
algumas gotas de prazer. Quem vive oitenta, caso conte direito, vai descobrir
que, se viveu vinte de verdade, foi muito. Pensamos que domamos o tempo, mas
somos seus escravos. Sempre usados de forma implacável para os seus propósitos.
Enquanto planejamos ou gastamos nossa força,
acreditando no que só é material em nossa mente, a poeira das horas escorre
firme, surda, obediente até o ponto final. Se o sonho chegará, certeza não se
tem. Se haverá amanhã, apenas na teoria profetizamos. Tudo é tão incerto que
preferimos deixar a sorte nos guiar, sabe-se lá para onde. A nossa passagem,
porém, é sempre matemática.
Infelizmente é preciso que o mais precioso
escorra durante a dura lida no mundo. Já que deve ser assim, ao menos que seja
para usufruto da alma. Que seja para formar preces coletivas de agradecimento e
correntes frutíferas de boa vontade.
Somos oprimidos pela liderança que usa seu
livre arbítrio para subjugar os de mesma substância. Desejamos sem saber se
alcançaremos. Deixamos os anos escaparem entre os dedos, sempre frenéticos
pelos títulos e posses, que nunca provarão nada de realmente importante.
Resmungamos muito, mas ignoramos o fato de que a cada minuto milhões de
pessoas, em alguma parte do globo, se foram.
De tanto pensar consegui capturar, do meu
pó, algo de útil.
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